Quarta-feira, 6 de Junho de 2007

Alquimia do amor

“O que eu mais gosto no amor é que, quando é a sério, cabe tudo lá dentro. A paixão, o desejo, o pulsar das almas e a serenidade dos pensamentos, a vontade de construir outra vez o mundo à imagem e semelhança do que sentimos, a paz dos regressos e a poesia das folhas brancas que cada dia esperam a doçura das palavras e a certeza das ideias.
O amor é mais do que querer, desejar, sonhar e amar. É partilhar a vida inteira, numa entrega sem limites, como mergulhar no mar sem fundo ou voar a incalculáveis altitudes. O amor é muita coisa junta, não cabe em palavras nem em beijos, porque se leva a si mesmo por caminhos que nem ele mesmo conhece, por isso é que quem ama se repete sem se cansar e tudo promete quase sem pensar, porque o amor, quando é a sério, sai-nos por todos os poros, até quando estamos calados ou a dormir.
(...)
Mais do que uma paixão, que sobressalta a alma e extenua o corpo, e às vezes se consome a si mesma e desaparece sem deixar mais rasto do que um gosto amargo na boca e a perplexidade de tudo o que é absurdo, o amor sabe ser calmo e sereno, não tem medo nem dúvidas, nem se assusta com a vida e trata a rotina com cerimónia, para nunca a deixar chegar por perto e a minar com o seu espectro. Não, o verdadeiro amor sabe que pode fazer tudo para tornar a vida fácil e quase perfeita, como ela deve ser.
(...)
O amor a sério entre duas pessoas é como um cofre sem nada lá dentro, que se esvazia todos os dias e depois se volta a encher, sem medo de ladrões nem de assaltos, porque é protegido por si próprio. Ninguém lhe sabe dar o verdadeiro valor, porque o amor não tem preço e por isso não se pode roubar.
E quem ama, até pode estar apaixonado, mas nada chega ao amor quando o amor chega e entra na nossa vida, muda tudo e tudo na vida muda. O que havia antes apaga-se, deixa de ter sentido, reduz-se à sua insignificância de passado que já passou.
Amar alguém é começar a viver outra vez, terminou-se uma viagem e começa-se. Esquecem-se as desilusões, o medo de falhar, e aqueles que nos amaram ou que nós pensamos ter amado morrem sem dor dentro dos álbuns de fotografia e molhes de cartas desmaiadas, já sem voz nem lugar.
O amor é regenerador. Faz-nos vibrar como se fosse a primeira vez, pinta de claro as casas e as almas, junta sonhos num sonho comum, faz dos ideais coisas palpáveis e possíveis, deita-se cansado mas acorda novo e fresco, perpetua-se em palavras e gestos, sem nunca se desvirtuar.
Mas o amor a sério, o amor para durar uma vida, é quase secreto, quase escondido, quer-se discreto e comedido, independente e inconformado.
O amor não tem nenhuma receita milagrosa, é como um prato que se faz com alma e coração, a cabeça e o corpo, tudo em doses bem medidas, muita paz e serenidade. E quem o conhece, sabe que depois de ele nascer, é como uma criança que precisa de aprender tudo: falar, escrever, rir, respeitar, ir à escola e crescer, ouvir e às vezes não ter, lutar e nem sempre conseguir, chorar sem ninguém ouvir, mas nunca desistir de ser a maior e mais importante riqueza que uma pessoa alguma vez pode vir. E ter.”
 
“O truque está na entrega. Um amor sem entrega não é amor, é um compromisso que se faz com a vida e consigo próprio, mas estes compromissos, em que as pessoas embarcam na esperança de encontrarem uma vida estável e calma, transforma-se com o tempo na mais entediante e vazia das existências. Como tudo o que não é genuíno, rapidamente perde o brilho, a graça e a vida. O amor verdadeiro, não. È como uma árvore que cresce muito devagar, sem pressa nem objectivo, e que por isso mesmo não precisa de razões para existir. Por isso, quando oiço as pessoas dizerem: gosto de fulano tal porque tem estas e aquelas qualidades, desconfio sempre. Não se ama pelas qualidades. Nem por isto ou por aquilo. Ama-se simplesmente, e sobretudo ama-se apesar deste e aquele defeito que às vezes até podem ser um espinho na nossa vida. Porque para quem ama um pequeno espinho é sempre reduzido à sua verdadeira insignificância e nunca se deixa que ele se transforme num problema.”
 
 As crónicas da Margarida – Margarida Rebelo Pinto
 

          
Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Sinto falta

Sinto falta do teu olhar atrevido, do teu sorriso manhoso, dos teus braços gostosos e dos teus abraços apertados, do teu corpo ardente colado ao meu e dos teus lábios quentes descobrindo cada recanto do meu corpo.

Sinto falta das palavras doces que já não oiço, da voz tremida que já não conheço, do telemóvel que já não toca, das mensagens amorosas que já não recebo, dos postais de amor que já não envio.

Sinto falta dos beijos, dos mimos e dos carinhos.

Sinto falta de tudo o que já tive e que me roubaram.

Sinto falta de ser feliz, de amar e ser amada.

Sinto falta de andarmos de mãos dadas, de ver o pôr do sol e o nascer do dia, de passar horas a fio com a cabeça no teu colo, a falar de tudo e de nada, esquecendo o mundo.

Sinto falta de acreditar nas tuas palavras, de confiar nos teus gestos, de te ser fiel.

Sinto falta do que tive e já não tenho.

Sinto tanta falta...

 

Clauclau

 

 

 

 

Domingo, 3 de Junho de 2007

Terá sido um grande amor

“- Achas que era o que te estava destinado? Foi o amor da tua vida?
A boca crispou-se-lhe aos cantos. Ergueu as sobrancelhas. Sob o olhar da amiga, tossicou, sacudiu a cinza do cigarro no lava-loiça. Demorou a responder.
- Queres uma resposta honesta? Não. Apesar de tudo, não. Se assim fosse, as coisas tinham-se harmonizado. Nós fomos a própria negação da teoria. Já tenho dúvidas se ele foi um grande amor... sei que, para ele, eu não fui. Nem grande nem pequeno. É melhor que não me engane. Pensei que sim, durante muito tempo... E, também, durante muito tempo, recusei-me as reconhecer que não. Depois de tanto drama, tanto sofrimento, esvaziava-me a vida.”
 
Praia das Maçãs - Margarida Faro
 

 
Como me vejo retratada nesta passagem. Pensei que o amava. Durante anos foi esse o sentimento que julgava que preenchia o meu coração. Mas com o fim da relação percebi que ele nunca me tinha amado e questiono mesmo se algum dia o amei, pois não quero acreditar que o amor se descarta assim das nossas vidas, como se fosse um simples objecto material com a validade perdida. Tem de ser mais do que isto...
Sábado, 2 de Junho de 2007

Voltará?

“Por isso agora convido-te a imaginares que estou diante de uma janela fechada e observo através dos vidros o movimento de um bairro periférico, à espera de ver voltar aquele a quem chamo o amor da minha vida. Não sei quando voltará, podem faltar minutos, horas, anos....”
 
À tua espera – Julieta Monginho
 
 

 

O tempo passa por mim, implacável e sem piedade, sem olhar ao lado e sem me dar tempo... tempo para alterar o que já não posso alterar, para apagar o que já não pode ser apagado e para viver o que já não pode ser vivido. Perdi minutos, horas, dias, anos iludida pelo amor. Gastei o tempo que já não volta num amor que o próprio tempo diluiu.

O tempo que me mostra a cada dia que passa que deixei de acreditar, que deixei de ter esperança, que deixei de desejar voltar a investir, voltar a amar, voltar a sofrer... 

Não está escrito que tenha de amar, de ter um lar, uma família. Cada vez me convenço mais que não pertenço a esse mundo, que nunca irei conseguir ter a família de sonho que um dia sonhei. Olho para o lado, e vejo que já é tarde, que é tarde para começar do zero. Estou cansada, exausta, desiludida com a vida, com o mundo, com uma panóplia de sentimentos falsos que nos alimentam os sonhos e que os transformam em pesadelos. Começo a acreditar que vivo numa sociedade sem valores, sem sentimentos... estes ficaram presos no passado, há anos atrás, talvez séculos. Olho à minha volta e só vejo falsidades, traições e infidelidades.

Hipócritas! Tentam mostrar vidas de sonho, que invejamos sem saber que o terreno está completamente minado, sem saber que vivem em guerra permanente, debaixo do mesmo tecto, escondidos por quatro paredes. E nós, puros imbecis, acreditamos que a felicidade plena existe. Pura utopia. É-nos vendida como um pacote de férias em que só nos é mostrada a parte boa da viagem, mas ninguém nos adverte dos mosquitos, das cobras e dos lagartos.

Pensando bem, tudo isto é relativo, quantos são os casos que sabem que o terreno está minado, que vivem mergulhados em sentimentos falsos, e que mesmo assim continuam a aparecer de mãos dadas e com um sorriso na cara.

Não... não suporto infidelidades, traições, mentiras, falsidades... não sei viver nesse mundo em que todos vivem iludidos. Sei que não voltarás, mas se voltasses também já não irias encontrar nenhuma porta aberta... sim, a culpa é tua. Tua e do tempo. São vocês os únicos culpados da destruição do véu que me tapava a visão e que me fazia acreditar no amor.

 

Clauclau

 

 

 

 
 
 
“Eles ficam fartos daquilo que têm, levantam-se e vão-se embora.”
“Já ninguém sente as coisas que diz. Tudo é temporário. Nada dura.”

 Namorada dos meus sonhos – Mike Gayle

Sexta-feira, 1 de Junho de 2007

Piropos

“Gosto dos olhares gulosos dos homens, quando passo na rua, como gosto dos olhares neutros das mulheres (Ok, vá lá, assumo que a única emoção que lhes gosto de ver é a inveja). Até assumo que gosto de piropos. Funcionam como o meu espelho. Sei sempre quando estou bem, gira e apetitosa.”
Gosto de Homens – Ana Santa Clara

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