Sexta-feira, 10 de Agosto de 2007

A outra... uma perfeita idiota

"Poucas coisas têm um efeito melhor sobre a psique de uma mulher abandonada do que descobrir que a outra, aquela por quem ele a deixou, é uma perfeita idiota. Consola e permite ver o muito amado perdido sob uma nova luz: a do imbecil. Por isso não é de estranhar que, nos dias seguintes ao encontro com Belinda , Rebeca estivesse de muito melhor humor. Depois de ter chorado muito, parou e reflectiu sobre o facto de Davide ter atirado a vida ao ar por causa de uma galinha com puré no lugar do cérebro, e começou a considerar a situação com um maior optimismo. Talvez não lhe tivesse corrido assim tão mal, talvez tivesse evitado, por um felicíssimo pêlo, passar o resto da sua existência com um homem em quem, ao envelhecer, viria inexoravelmente ao de cima a pobreza de espírito."

A abelha do amor – Stefania Bertola

Quinta-feira, 9 de Agosto de 2007

A abelha do amor

- Como é isso de o amares?
- Quando o vi, percebi que ia amá-lo para sempre.
- A sério? E como é que percebeste? – Mattia tinha pousado a cafeteira a ferver na base de palha, tinha tirado as chávenas e estava com o açucareiro na mão, curioso em ouvir finalmente a definitiva explicação sobre o mistério do amor.
- Pela dor. Sabia que o amor é uma abelha?
- Uma abelha?
- Sim. Nós temos a abelha do amor fechada no nosso coração, e adormecida. Só quando a abelha acorda e nos pica é que chega o verdadeiro amor. A abelha só pica uma vez e depois morre.
- E como é que percebes a diferença entre amores falsos e amor verdadeiro?
- Percebes. Se não sabes, quer dizer que ainda não te picou.

A abelha do amor – Stefania Bertola

Clauclau às 12:01

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Quarta-feira, 8 de Agosto de 2007

Sem defesa

"- Eu não percebo como é que permites que me humilhem desta maneira, que me tratem como uma espécie de cachorra que levas atrás de ti para as festas, partindo do principio a que se pode chamar festas a estas enormes chatices a que eu venho só para te agradar, porque se por acaso acreditas que me divirto, enlatada no meio de uma quantidade de velhos babosos que só tentam apalpar-me o rabo, pois bem, não é assim, ficas a saber, não é assim, eu vou por ti, porque te amo, e sou leal contigo, enquanto que tu não passas de um pedaço de merda!
Esta confusão imprevista apanhou de surpresa Davide, que esperava que o monólogo continuasse até ir ter a sítio qualquer. Mas afinal requeria-se a sua intervenção: - Belinda, são duas horas da manhã e eu estou cansado... não sei que paranóia é essa...
- Paranóia? Paranóia? Disseste «paranóia»? Ah, então é uma paranóia, não é? O facto de tu deixares que o primeiro idiota de passagem me trate daquela maneira, sem lhe dirigires uma palavra! Ficas ali a sorrir como um imbecil, e se calhar até te sentes satisfeito, sim, até te sentes satisfeito, porque no fundo até te dá gozo! Diz, diz que ainda a amas!
E aqui, finalmente, Davide percebeu pelo menos em parte qual era a questão. Mais uma vez, Rebeca. De quem Belinda tinha uns soberbos ciúmes em cada instante da sua vida consciente."
A abelha do amor – Stefania Bertola
 
Clauclau às 11:57

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Terça-feira, 7 de Agosto de 2007

Obrigação quotidiana

Violetta interrompeu-o com um gesto de polícia urbano. Achava que já tinha apanhado o essencial.
- Portanto, tu não queres viver comigo.
- Não é isso... é que...
Enquanto Eugénio gaguejava, ela completou a análise.
- E em casamento, nem se fala. Imagino que não queiras de maneira nenhuma casar comigo.
- Casar? Mas desde quando? Mas quem? Nunca falámos em casar...
a mesma vizinha que tinha classificado as batatas como legumes dirigiu a Eugénio um olhar de puro nojo, agarrou no tabuleiro e levantou-se para mudar de lugar, depois de lhe ter dito: - Tenha vergonha! Eu chamava-lhe «pulha» se não fosse tão bem-educada. Por isso, seu canalha!
Violetta dedicou-lhe um sorriso de agradecimento e depois voltou a tacar o tema. Só tinha meia hora antes de voltar ao trabalho e queria acabar aquela conversa.
- Não queres viver comigo e não queres casar. Então, por que é que hei-de acreditar que me amas? Tu não me amas, não é verdade?
- É claro que te amo! Mas amar não significa viver juntos vinte e quatro horas por dia sob o jugo da rotina, coagidos à obrigação quotidiana do compromisso, dobrados no cansaço da aceitação recíproca e total!
Apesar de impecável construção da frase, Violetta não se deixou vencer.
- Mas também não quer dizer andar sempre para aí sem fazer nada, como dois miúdos de dezasseis anos que vão ao cinema, e jantar fora, e que de vez em quando fazem sexo e trocam presentes de aniversário. Isso está bem durante algum tempo, mas depois chega!
- E então?
- Não sei. Ficamos por aqui? Vamos acabar?
Eugénio ficou de boca aberta. Considerava tudo aquilo sumamente injusto, uma perfídia de que nunca acharia capaz a sua Violetta , uma rapariga doce como um torrão, bonita e simpática, autónoma e pouco possessiva, sempre distraída com os seus pensamentos, de tal maneira que nem sequer tinha dado conta daquelas três ou quatro histórias estúpidas que ele tivera ao longo daqueles famosos dois anos e três meses ou lá o que era. Uma rapariga que ele não trocaria por mais nenhuma, mas pela qual ele não contava nem tinha contado renunciar a todas as outras, e que agora o ameaçava, lhe impunha a escolha entre duas hipóteses igualmente horripilantes, perdê-la para sempre ou para sempre ficar com ela...
- Espera aí! Não há razão para seres tão agressiva. O que dizes de me dar algum tempo para eu pôr as ideias em ordem?
- Ok, põe as ideias em ordem, mas primeiro verifica se estão maduras.
- Satisfeita com aquele fecho, Violetta pegou no tabuleiro e dirigiu-se à saída. Ao passar, trocou um olhar de entendimento com a senhora das batatas."
 A abelha do amor – Stefania Bertola

 
Clauclau às 11:40

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Segunda-feira, 6 de Agosto de 2007

Jogo duplo

- De facto, nós temos muitas outras coisas em comum.
- Não o enganas de vez em quando? Porque se o enganas de vez em quando eu gostava de me candidatar.
Violetta olhou para ele atentamente e depois suspirou.
- Não. Tu não és nada mau, mas a traição não me interessa. O meu carácter não é suficientemente forte para enganar.
- Ou seja? O que é que queres dizer com isso?
- Para trair é preciso saber mentir, saber aguentar os remorsos, ter uma grande opinião sobre si próprio, tipo: quero lá saber se o enganei, eu divirto-me, e é isso que importa. Em suma, é preciso ser muito forte. Eu sei que não era capaz, confessava logo tudo, chorava e, armava uma grande confusão. Já tentei uma vez e correu muito mal.
- E com quem tentaste?
Com um colega da escola. Andava com outro colega de escola, mas só consegui fazer jogo duplo durante uma semana, depois já não me lembrava do que tinha dito a um e ao outro, comecei a fazer uma baralhação, o meu namorado apercebeu-se de qualquer coisa e eu em vez de aguentar firme confessei-lhe tudo na véspera de Natal. Nunca mais me vou perdoar.
- Ele já te tinha dado a prenda?
- Sim. Tinha-me dado o Narciso e Goldmundo, do Hesse, e quis que eu ficasse com ele.
- Gostaste?
- Nunca o li.
- Que história tão triste – disse Mattia, enquanto secava cuidadosamente uma travessa.
- Não é? Então podes perceber por que é que eu acabei definitivamente com as traições. Se me aparecer alguém por quem eu me apaixone a ponto de não entender nada de nada, então primeiro deixo o Eugénio e só depois é que o engano.

Mattia suspirou. – Mas que história... Apaixonar-se a ponto de não entender mais nada de nada... olha que os homens e as mulheres são mais ou menos todos intermutáveis... depende das situações, o amor, e não das pessoas... eu acho que não levo as coisas assim tão a sério com as raparigas. Qualquer uma, se for gira e não for chata, serve bem. Todas têm alguma coisa de atractivo e qualquer coisa de desagradável. Ou ainda acreditas no destino?

A abelha do amor – Stefania Bertola

Clauclau às 11:36

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Domingo, 5 de Agosto de 2007

Amores quase possíveis

“... Os amores quase possíveis, ao contrário dos impossíveis, não são os melhores, com mais charme e pergaminhos, mais eloquentes e requintados. Não. São pessoas como nós, que nós aceitamos com as qualidades e os defeitos com que nasceram e que nunca correm o risco de subir ao pedestal e cair dali abaixo. Os amores quase possíveis são aquelas pessoas com quem nós pensamos às vezes que podíamos ter uma relação e que nunca tivemos. Mas tal assunto nunca nos preocupou nem nos tirou horas de sono. Acontece frequentemente entre grandes amigos de sexo diferente, que pelo facto de serem tão amigos há tantos anos não se sentem à vontade para dar à pacífica e segura amizade rumos sinuosos quando não tempestuosos e imprevisíveis."
As crónicas da Margarida – Margarida Rebelo Pinto
Sábado, 4 de Agosto de 2007

Fluir do tempo

“Apetecia-lhe uma tarte de amêndoa... De quando em quando, invadem-na desejos incontidos que consta serem comuns entre as grávidas. Nunca os experimentou. Apesar de ter um filho. Não se recorda de, quando estava grávida, ter sido invadida por desejos estranhos. Não se lembra, sequer, de algum dia ter estado grávida ou de ter amamentado o seu filho. Recorda-se, vagamente de, numa época demasiado distante, ter sido casada com o pai do seu filho. Parece-lhe ter sido à tanto tempo que nem mesmo compreende o porquê dessa relação. Invade-a a sensação indefinida de um dia ter estado apaixonada por um homem. Um homem bom e educado. De mãos quentes e olhos densos como o nevoeiro das madrugadas na praia. Esta história, que recorda vagamente, é sentida como vivida por alguém, que não ela, como se tudo lhe tivesse sido narrado em traços gerais por outra pessoa.” 

Não se escolhe quem se ama – Joana Miranda

Clauclau às 17:10

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Sexta-feira, 3 de Agosto de 2007

Amargurado crónico

"O amargurado crónico só notava a sua doença uma vez por semana: nas tardes de domingo. Ali, como não tinha o trabalho ou a rotina para aliviar os sintomas, percebia que alguma coisa estava muito errada – já que a paz daquelas tardes era infernal, o tempo não passava nunca, e uma constante irritação manifestava-se livremente.
Mas a segunda-feira chegava, e o amargurado logo esquecia os seus sintomas – embora blasfemasse contra o facto de que nunca tinha tempo para descansar, e reclamasse que os fins de semana passavam muito depressa."

Veronika decide morrer – Paulo Coelho


Quinta-feira, 2 de Agosto de 2007

Chorar

“Diz o mestre:

Se você tiver de chorar, chore como as crianças.

Você foi criança um dia e uma das primeiras coisas que aprendeu na vida foi chorar; porque faz parte da vida. Nunca se esqueça de que você é livre e que demonstrar emoções não é uma vergonha. Grite, soluce alto, faça barulho, se tiver vontade – porque é assim que choram as crianças e elas sabem a maneira mais rápida de sossegar os seus corações.

Você já reparou como as crianças param de chorar? Alguma coisa as distrai, algo lhes chama a atenção para uma nova aventura.

As crianças param de chorar muito depressa. Assim será também consigo – mas apenas se chorar como chora uma criança.”

Maktub – Paulo Coelho

Quarta-feira, 1 de Agosto de 2007

Desculpas

“Se calhar, as mulheres têm um cromossoma das desculpas a mais do que os homens.
 
“O defeito dos homens é nunca se sentirem culpados.”
Coração à deriva – Ildikó Von Kürthy
 

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