"Enquanto regressava a casa, às três da manhã, experimentava uma sensação de quase felicidade. Tinha sido uma noite de grande utilidade, que lhe permitira entender uma coisa importante: ela, com os homens, tinha encerrado para sempre. Já não era capaz de gozar com os prazeres simples que ofereciam se não estivesse amparada pelo inebriante impulso do amor. E esse tinha ficado definitivamente enterrado num qualquer bolso desarrumado do seu ex-marido. Por isso, de agora em diante, se a saúde ajudasse, tinha pela frente pelo menos uns quarenta anos livres de qualquer compromisso sentimental. Mesmo fazendo um cálculo muito aproximativo, a extensão de horas que perfilava, convidativa, perante os seus olhos era realmente notável. Horas, horas e horas para se dedicar a ler, a aprender novas receitas de legumes, a fazer construções de Lego com as meninas, a exercitar-se em diversas actividades manuais e práticas como o bordado e o crochet, a visitar Praga, a tocar outra vez piano e a estudar Grego, e a reproduzir com calma e sem pressa alguns dos objectos maravilhosos que tinha visto durante o ART ATTACK, o seu programa de televisão preferido... amanhã começo, pensou, ao mesmo tempo que o taxista parava em frente ao portão de sua casa, e faço aquele castelo de pasta de papel com luzinhas dentro."
A abelha do amor – Stefania Bertola