“O pensamento repentino surpreendeu-a há muito que não se sentia assim, há anos, desde os primeiros tempos que se seguiram à partida de Bem. Nessa altura, a sua vida era preenchida com pães de forma, bolos, pizzas; toda aquela massa fermentada a crescer uniformemente no calor inebriante e emocional da sua própria cozinha. Os seus dias tinham-se tornado uma rotina vaporosa de misturar, amassar, provar. Enquanto tudo à sua volta crescia e se desenvolvia e duplicava em tamanho, ela via-se a definhar e engelhar-se, a desaparecer nas fronteiras da sua própria existência. Ao fim de quase dois anos estava farta: necessitava de estar noutro lugar, algures onde pudesse respirar. Aproveitara a primeira oportunidade que se lhe deparara: um estabelecimento por arrendar, algo deteriorado e mal equipado, é certo, mas próximo de casa, barato e destinado a ser dela. Ela sabia-o; sentia-o.
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- Talvez tenhas razão – admitiu, finalmente. – Não sei ao certo que género de mudança posso empreender, mas não posso continuar assim, com o dinheiro a escoar-se como se o futuro não existisse.”
A outra face do amor – Catherine Dunne