“Rose dobrou cuidadosamente a roupa seca e deixou-a na cama do quarto de visitas. Dobrada assim, o trabalho de engomar era menor. Fora uma maneira de persuadir Damien, nos primeiros tempos, depois Brian, e agora Lisa a realizar esta rotina: isso, e a autorização para ouvir a música tão alta quanto quisessem, desde que ninguém incomodasse os vizinhos.
- Como os preceitos se quebraram – observava uma vez Jane, há uns anos atrás. Tinham estado sentadas na cozinha de Rose bebendo o habitual copo de vinho numa sexta-feira à noite. – Pensar que costumava passar as cuecas e as meias a ferro. Agora, as coisas saem do secador, ou da corda, alisam-se rapidamente, dobram-se rapidamente e, regra geral, já está. Ninguém se preocupa com os pormenores.
Jane rira-se dela. – O teu segredo fica bem guardado. Prometo que nunca direi a ninguém que costumavas engomar as meias!
Mesmo assim, reflectia agora Rose, embora a rotina doméstica tivesse sido reduzida a um mero processo de manutenção, era incrível o tempo que se perdia. Ir às compras, cozinhar, lavar: mesmo as coisas mais básicas exigiam horas enérgicas e suplementares de uma semana já de si preenchida. Muitas vezes sentia falta do lado ociosos da sua antiga vida; vezes em que desejava realizar todas as velhas obrigações num ritmo mais lento, mais ponderado e meticuloso. Sentia falta da vida doméstica; agora tudo o que fazia parecia ser, na melhor das hipóteses, cuidar da casa. Na pior das hipóteses, distinguia-se por ficar à frente do pelotão, manter a cabeça fora de água.”
A outra face do amor – Catherine Dunne