"Diogo estava menos triunfante, menos seguro de si mesmo do que ela. Acabara de se casar com a mulher que amava - isso ele sabia. Com uma mulher de vinte anos a cuja beleza e sensualidade homem algum poderia ficar indiferente. Que era inteligente, trabalhadora, resguardada e seguramente agradecida. Ser-lhe-ia fiel, amiga e reconhecida. Esperaria por ele quando tivesse de esperar, estaria ali quando ele precisasse, seria discreta quando fosse de o ser, exuberante quando ele o desejasse. De tudo isso Diogo estava certo e confiante. O que o fazia sentir-se ligeiramente inseguro, um pouco confuso até, não era ela, mas sim ele mesmo. Era pensar que talvez fosse novo de mais para se casar e se prender, para fazer filhos e família, para se acomodar de vez àquele vasto pedaço de terra, dois milhares de hectares, rios, ribeiros e lagoas, floresta e pastagem, vales e montes, escarpas de esteva selagem e planícies cultivadas e, todavia, tudo tão pouco, comparado com o mundo inteiro que ele não conhecia."
Rio das flores - Miguel Sousa Tavares