“Para o aniversário de Kate, em Abril, Jim pensa escrever-lhe um poema. A inspiração pode vir da falta de dinheiro – o que ganha mal lhes dá para sobreviver no apartamento do dr. Morgan, de renda especialmente baixa a troco do corte da relva, não lhe permitindo o luxo das coisas bonitas que se encontram nas lojas de Bedford Village e Chappaqua, onde toca uma sineta quando alguém entra. A pobreza é relativa, mas é suficiente para o deixar com uma sensação de vergonha, de inutilidade, que talvez a composição de um poema possa absorver. O problema é que há muito tempo não escreve nada. As últimas coisas que escreveu foram umas frases, peças soltas do que pode vir a ser alguma coisa, uns quantos fragmentos rítmicos que lhe andam a bailar na cabeça. Mas o poema propriamente dito nunca chegou a ganhar forma, como se, apesar de ele pronunciar as palavras e tentar exprimir o sentimento, não se desse o acto de transubstanciação. Pô-lo de lado.”
Dizei uma palavra e eu serei salvo – Niall Williams