"Era um dos mais respeitados guias da região, um homem que via na caça não um desporto selvagem, mas uma maneira de respeitar a tradição do lugar.
(...)
Quando chegava alguém com muito dinheiro, mas pouca experiência, ele levava-o para um lugar descampado. Ali, em cima de uma pedra, colocava uma lata de cerveja.
Afastava-se cinquenta metros da lata e, com um só tiro, fazia com que voasse para longe.
- Sou o melhor atirador da região – Dizia. – Agora você vai aprender uma maneira de ser tão bom quanto eu.
Recolocava a lata no mesmo lugar, voltava para a mesma distância, tirava um lenço do bolso e pedia que lhe vendassem os olhos. Em seguida, apontava na direcção do alvo, e tornava a disparar.
- Acertei? – perguntava, tirando a venda dos olhos.
- Claro que não – respondia o caçador recém-chegado, contente em saber que o orgulhoso guia tinha sido humilhado. – A bala passou muito longe. Não creio que possa ensinar-me alguma lição.
- Acabei de lhe ensinar a lição mais importante da vida – respondia o marido de Berta. – Sempre que você quiser conseguir alguma coisa, mantenha os olhos abertos, concentre-se, e saiba exactamente o que deseja. Ninguém atinge o seu alvo com os olhos fechados."
O demónio e a senhorita Prym – Paulo Coelho